Já é
tarde demais para ser amado. Já não é mais tempo. Depois de certa idade a vida
nos afaga de outro jeito. Para mim essa hora chegou cedo feito alvorada. Como
chegaram todas as outras coisas. Minha vida foi sempre um trem que partia antes
do horário, poupando os gestos de adeus na plataforma da estação. Não há mais
tempo para esses amores que nos chamam, suspirando pelas esquinas. Talvez a
estrada. Talvez o silêncio. Talvez um monastério perdido nas montanhas. Mas
amor não há mais para nós. Amar não é mais permitido quando se rompe a
intimidade das coisas. Antes virar bicho, estrela ou imensidão. Mando sinais,
mas não há resposta. Já falei tanto de amor e hoje não o reconheço. São
estranhas essas condições. Lá fora um casal sorri do outro lado da rua. Em meu
peito só habita a estranheza. Alguém tirou a doçura de viver que eu tinha.
Agora é só uma tarde eterna que se estende vagarosa. O calor me irrita. Logo
não representarei mais nada, nem pra ela, nem pra mim. Todos cansam. Somos
imperfeitos. Estou pronto para o fim.
Desconhecido
Desconhecido
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